de 1969 a 1974, sendo cinco vezes pelo Santa Cruz, a última pelo Náutico. Artilheiro em 1969, 1970 e 1972, ele agora compartilha sua experiência aos domingos com o grupo da ASIMARE que o mantém eternizado como um de seus craques.
Sua Biografia:
A VIDA E ASCENSÃO DE UM CRAQUE
Já faz algum tempo que ando afastado profissionalmente do Futebol, tendo-o acompanhado, apenas, como mero torcedor, e diga-se de passagem, dos mais acomodados, pois me limito tão somente a ficar, e vê-lo pela TV, no conforto seguro do lar.
Mas, confesso, tenho uma saudade enorme da minha militância, dos meus atletas, das amizades conquistadas, algumas sinceras, outras passageiras e superficiais, como em toda atividade humana, porém, o que mais me deixou marcas, foi a grande oportunidade de desenvolver uma enorme gama de idéias como treinador, e principalmente, e essencialmente como educador.
E é exatamente como educador-treinador ou treinador-educador, na minha passagem pelo Santa Cruz, Sport e Náutico, que uma pequena parte das minhas concepções puderam ser desenvolvidas, e que ficaram marcadas em muitos dos meus atletas, como cidadões de bem e vitoriosos, fatos estes comprovados no dia-a-dia de nossa cidade, quando nos encontramos nos eventos sociais-esportivos. É grande a minha alegria de reencontrá-los!
E entre muitos atletas com quem convivi, um é especial, que é Fernando Santana, já que ele encarnou, bem exatamente, tudo aquilo que eu imaginava para que um atleta pudesse ser um vencedor, e ele foi com todos os méritos!
Senão, vejamos, uma das minhas crenças, é a de que por melhor que seja o “talento” de um atleta, sempre haverá a necessidade de que alguém reconheça e invista neste talento. E com Fernando Santana não foi diferente, acreditei no seu talento, no seu potencial, mas colocá-lo dentro do Santa Cruz, meu primeiro clube como treinador, não foi uma tarefa fácil, teve toda uma história pelo caminho, e uma história cruzada e participada por outros componentes.
Após a conclusão de meu Curso de Educação Física no Rio de Janeiro, ingressei como Árbitro na Federação Pernambucana de Futebol em 1964, onde permaneci até o final de 1965, quando fui convidado por Alexandre Borges, a quem devo e agradeço ao sucesso alcançado no Futebol, a trabalhar como seu preparador físico da equipe profissional e treinador da equipe de juvenis do Santa Cruz, era janeiro de 1966.
E foi na condição de Árbitro que eu tive oportunidade de ver Fernando Santana jogando. Foi numa decisão de futebol dos Jogos Estudantis de Pernambuco, em 1965, entre o Ginásio Pernambucano, onde ele estudava, e a Escola Técnica Federal de Pernambuco, tendo ele comandado sua equipe a uma vitória consagradora, sendo campeã da mencionada competição.
O registro desta partida, é que ela representou para mim um grande teste, de grande fator emocional, primeiro, pelo fato de ter sido a primeira decisão na minha curta carreira de Árbitro, segundo, a grande responsabilidade que eu reunia, pelo fato de ser professor de Educação Física da Escola Técnica, e ainda por cima, como professor da Cadeira de Futebol da Escola Superior de Educação Física, fazia parte da Comissão Organizadora dos Jogos, portanto, era proibido errar, qualquer falha teria sido uma catástrofe em minha vida profissional.
Escapei, o jogo foi sensacional, brilhante, empolgante do começo ao fim, disputadíssimo, leal, e eu fiquei deslumbrado pelo padrão técnico das duas equipes, uma exposição de excelentes jogadores, tanto foi assim, que vários daqueles atletas foram convidados e militaram em muitas das nossas principais equipes, a exemplo de Fernando Santana, que foi por estas disputadíssimo.
Como indicado de Alexandre Borges ao Santa Cruz, para exercer as funções de preparador físico dos profissionais e treinador dos juvenis, tive a oportunidade de assinar o meu primeiro contrato como profissional. Cabe salientar, que além da responsabilidade de assumir uma equipe do porte do Santa Cruz, teria a missão de recuperar a hegemonia da equipe de juvenis, que depois de uma série de quatro títulos seguidos, perdeu o campeonato de 1965, sob o comando de “Batista”, que como uma espécie de castigo, foi designado para ser meu assistente, e como não poderia ser diferente, com o seu brio ferido, foi terminar dirigindo os juvenis do Sport.
Mas, a minha primeira batalha foi estabelecer a remuneração do meu contrato, um verdadeiro embate com o Diretor de Futebol Almir Lippo, que tomou como base o fato de que eu era um “neófito” no mundo do futebol, com um currículo zerado, porém, confiei no que seria capaz, topei o desafio, e tive uma remuneração bem abaixo dos cargos a assumir.
Mãos à obra, iniciamos o trabalho de montagem da equipe, muitos jogadores em teste, muitos outros com contratos por renovar, outros com acertos financeiros indefinidos e até com convites para jogarem em outras agremiações, porém, aos poucos conseguimos definir a base do grupo.
Iniciado o campeonato, conseguimos ganhar o primeiro jogo, muito bom, ganhar sempre agrada, mas, fazendo uma análise técnica mais aprofundada, faltava uma peça de ataque na minha equipe. A nossa dupla de ataque de meio de área, tinha Paulo Veloso, centro-avante típico, sem uma técnica refinada, porém, um finalizador, um matador, e o outro companheiro de seu lado era o Pita, bom tecnicamente, porém lento e muito individualista.
Uma solução precisava ser encontrada, e urgente, e para preencher esta lacuna, a resposta não estava longe, tratava-se de um jogador de qualidades já reconhecidas, havia feito um ou dois treinos no início da temporada, mas desapareceu, sumiu, ninguém tinha mais notícias dele.
E estamos falando aqui de Fernando Santana, iríamos precisar dele, exatamente pelo seu talento, jogador de picardia, veloz, dribles e fintas em alta velocidade, partindo de fora da área, bola coladinha nos pés, alto poder de finalização, jogador de equipe, de grupo, a composição perfeita com Paulo Veloso.
Definida a característica do jogador que precisávamos, começamos as buscas para encontrá-lo, tarefa nada fácil, por uma razão um tanto bem complicada, a família posicionou-se radicalmente contra a que “Nando” enveredasse pela carreira do mundo do futebol, ele teria que estudar, já não aguentavam mais o assédio, que a todo momento aparecia na porta da casa, alguém para busca-lo, era um tal de “Nando “ pra jogar futebol de salão, naquele clássico desafio de uma equipe visitante, louca para derrotar aquela equipe de meninos abusados, abarrancados, naquela quadra de Jardim São Paulo, à noite, que abarrotada de gente, delirava com a molecada comandada por este tal de “Nando”, ou então nos finais de semana, era pelada que não acabava mais, um verdadeiro puxa-encolhe, Seu Santana e Dona Saúde já não aguentavam mais, “Nando tinha que estudar, do jeito que a coisa caminhava, imaginavam eles, esse menino não vai ser nada!
Mas, o pior (ou o melhor!) estava para acontecer, apareceram os clubes, cada um com sua oferta, loucos para formalizarem aquele tradicional CONTRATO DE GAVETA, e Seu Santana irredutível, eu não assino coisa nenhuma! E sabe mais, Seu “Nando”, dizia o velho, além de estudar também seria necessário trabalhar, é o seu futuro, você precisa ter suas coisas. E é justamente aí que entra em cena a figura mais importante na carreira de Fernando Santana, o seu padrinho FIRMINO DA ROCHA CARVALHO FILHO,” ROCHINHA” (segundo Jorginho, ex-ponta esquerda do Santa Cruz, todos primos!), que por ser ourives e relojoeiro, e possuir uma loja nas proximidades do Mercado de São José, passou a ocupá-lo, numa atividade burocrática de balcão, única e exclusivamente para escondê-lo dos clubes que o procuravam.
Nesta procura por Fernando Santana, desaparecido, buscado incessantemente, iniciamos e contamos com a colaboração de um cidadão anônimo, figura extraordinária e abnegada, o famoso BEDEL do Ginásio Pernambucano, “ARNALDO” PEREIRA BARROS, que acompanhava e até treinava a seleção do colégio, que para disputar os Jogos Colegiais de 1965, foi comandada por Gustavo (excelente meio-campista), filho de Constâncio, ex-goleiro do Santa Cruz nos anos 40, grande incentivador do futebol amador, que já com idade avancada, era um misto de goleiro e dirigente do Beberibe Esporte Clube, da 2ª Divisão da Federação Pernambucana de Futebol.
Foi ARNALDO que nos deu o endereço de Fernando Santana, fomos bem recebidos pelos seus pais, porém informados, de que toda a responsabilidade sobre ele, seria de seu padrinho ROCHINHA, seu patrão, que procurado, afirmou, não abriria mão de seu funcionário, e ainda mais para complicar, declarou que o seu salário tinha sido reajustado, exatamente para evitar o assédio dos clubes.
Conversa vai, conversa vem, idas e vindas, sentimos que a preocupação maior era com o fato da interrupção dos estudos de Nando. Com algumas ponderações e a garantia de que a política a ser desenvolvida por mim e Alexandre Borges, seria a de priorizar que os atletas deveriam estudar, começou a haver um abrandamento no posicionamento inicial, porém ficou uma exigência, sobre a questão salarial: o seu salário no clube teria que ser superior ao que recebia como funcionário!
Vencida esta etapa, iniciou-se outra, convencer o Diretor de Futebol do Santa Cruz, ALMIR LIPPO, a rever a política salarial da equipe de juvenis. Como não poderia deixar de ser, ele rechaçou de pronto a idéia, alegando que seria impossível praticar aquele salário.
Esta discussão prolongou-se por mais alguns dias, e finalmente, ao se chegar a uma solução, eu fui chamado por ALMIR LIPPO, me alertando que a elevação de salário atingiria dois jogadores, Nando e Luciano Veloso (que tinha vindo do CRB, de Maceió, e disse mais, que estes salários quase se equivaleriam ao que eu percebia nas minhas funções no clube, e, perguntou, se eu iria ficar satisfeito com esta situacao?
– Sem nenhum problema, foi a minha resposta, tinha plena certeza do sucesso daquela transação.
Depois fiquei sabendo, que a engenharia para elevação dos salários, só foi possível pela complementação da folha realizada pelo Diretor de Juvenis JOSÉ VIANA.
Enfim, com a aquiescência de Rochinha, Seu Santana assinou a liberação de Nando, ele iria, enfim, fazer a sua estréia no futebol federado.
Com a integração de FERNANDO JOSÉ DE SANTANA ao grupo, cabe aqui um registro que sempre considerei de fundamental importância, a divulgação dos nomes dos jogadores para a imprensa.
Pode parecer um fato insignificante, mas sempre fez parte de uma das minhas teorias, a da responsabilidade do treinador-educador no momento de atribuir com qual nome o jovem deverá ser conhecido para o mundo do futebol. Um nome mal colocado, apelidos ridículos, jocosos, e diminutivos, vão acompanhar o atleta a vida inteira, e se não agregam uma forma positiva de reconhecimento pelo público e imprensa, pode se tornar um verdadeiro desastre. O primeiro Marketing do atleta, É O SEU NOME!
E praticamos esta teoria no Santa Cruz, lá encontramos vários atletas com apelidos, uns poucos foram conservados, já que os nomes eram simples. Um exemplo: CUICA, batizado João José Wenceslau dos Santos, o apelido consagrou-o!
Outras intervenções foram bem marcantes, senão vejamos: o apelido de DODÔ transformou-se em Luciano Veloso; o de DODÓ transformou-se em Naércio.
O apelido de NANDO, já consagrado no mundo da pelada, como foi contado numa crônica de Lenivaldo Aragão, em sua coluna do Jornal do Comércio,”No pe da conversa”, que num jogo no campo do Ypiranga, ao marcar um gol com um potente chute, com as traves sem rede, destroçou o taboleiro do vendedor de laranjas, que não teve outro jeito, senão de bater na porta de Seu Santana, que arcou com o prejuízo.
Mesmo assim, ousamos, na primeira escalação da equipe, lançamos o nome FERNANDO SANTANA, pegou, virou um nome de marca, e de sucesso!
A equipe de juvenis do Santa Cruz montada naquele ano de 1966, foi sem sombra de dúvidas, a grande realização de um excelente trabalho de base, que não revelou apenas um jogador, mas projetou um grupo inteiro, todos de origem humilde, ganhadores, guerreiros e vencedores. Quantos títulos, quantas alegrias, primeiro naquele ano inicial, 1966, e depois no prolongamento da conquista de um pentacampeonato, de 1969 a 1973.
E Fernando Santana introduzido nesta equipe de juvenis, não fez por menos, segurou a grande chance, despontou e firmou-se como um grande goleador, comecou a fazer sua história no futebol pernambucano. E para ajuda-lo nesta tarefa de artilheiro, contou, lógico, com a força de um excelente grupo, todos dotados de uma técnica individual apurada, e que, trabalhados, formaram um conjunto muito forte.
Aqui vale a pena recordar, que além dos jogos do campeonato de juvenis, havia por parte dos torcedores, dos diretores e da imprensa, a expectativa da espera pelo chamado “apronto coletivo”, sempre nas sextas feiras, realizados contra a equipe de profissionais, que assumiam caráter de verdadeiros jogos, pelo alto nível de suas execuções. Como fazia parte de uma idéia conjunta com Alexandre Borges, a qualidade destes treinos visava a elevação do rendimento físico-técnico-tático, o endurecimento orgânico de competição, pelo contato dos jovens com os profissionais.
Esta política trouxe frutos espetaculares, além do desenvolvimento das habilidades individuais, fortaleceu enormemente a força do conjunto, que levou quase todo o time de juvenis para a Seleção Pernambucana de Juvenis, num Campeonato Brasileiro, disputado em Belo Horizonte, em janeiro de1977.
E foi exatamente esta base dos juvenis, que levou o Santa Cruz a alegrias memoráveis, conquistando o seu pentacampeonato.
FERNANDO SANTANA, entre outros jogadores que também fizeram fama, foi o grande expoente de todas estas conquistas, gravou o seu nome como um dos grandes goleadores de Pernambuco, chegando a ser artilheiro em três temporadas, tendo ainda por cima, o invejável feito de ser um jogador HEXA-CAMPEãO, cinco títulos pelo Santa Cruz (de 1969 a 1973) e um pelo Náutico (1974).
Pelo belo exemplo de vida, ter sido um bom filho, bom pai e chefe de família, excelente companheiro, hoje, quarenta e um anos decorridos, gostaria de lhe agradecer por tudo o que juntos passamos, e dizer, “VALEU A PENA TERMOS INVESTIDO UM NO OUTRO”.
PARA O SEU SUCESSO, UM ABRAÇO
DO AMIGO LOURINALDO RODRIGUES.
Dados colhidos no site: www.fernandosantana.com.br